A gente pode entristecer-se por vários
motivos ou por nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou
pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela
sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria
inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la.
Pode parecer confuso mas é um alento.
Olhe para o lado: estamos vivendo numa era em que pessoas matam em briga de
trânsito, matam por um boné, matam para se divertir. Além disso, as pessoas
estão sem dinheiro. Quem tem emprego, segura. Quem não tem, procura. Os que
possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de
sexo no mercado. E a gente corre pra caramba, é escravo do relógio, não
consegue mais ficar deitado numa rede, lendo um livro, ouvindo música. Há tanta
coisa pra fazer que resta pouco tempo pra sentir.
Por isso, qualquer sentimento é
bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que
seja uma melancolia. Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário
do fazer, que é conjugado pra fora.
Sentir alimenta, sentir ensina, sentir
aquieta. Fazer é muito barulhento.
Sentir é um retiro, fazer é uma festa. O
sentir não pode ser escutado, apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são
necessários, mas só o fazer rende grana, contatos, diplomas, convites,
aquisições. Até parece que sentir não serve para subir na vida.
Uma pessoa triste é evitada. Não cabe no
mundo da propaganda dos cremes dentais, dos pagodes, dos carnavais. Tristeza
parece praga, lepra, doença contagiosa, um estacionamento proibido.
Ok, tristeza não faz realmente bem pra
saúde, mas a introspecção é um recuo providencial, pois é quando silenciamos
que melhor conversamos com nossos botões. E dessa conversa sai luz, lições,
sinais, e a tristeza acaba saindo também, dando espaço para uma alegria nova e
revitalizada. Triste é não sentir nada.
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